terça-feira, 5 de novembro de 2013

RESISTÊNCIA CULTURAL 
Repúdio em favor de uma classe de jovens artistas
Por Max Kennedy

"Senhores vereadores, plenária, amigos da mídia, classe artística aqui presente, minhas saudações.

Nunca pensei que fosse tão difícil poder estar aqui hoje para em poucos minutos poder expressar alguns desabafos que há muito tempo estar engasgado no meio artístico. No dia 22 de Maio deste ano, há exatamente 5 meses e 13 dias para ser mais exato, enviei um oficio a esta casa solicitando a tribuna e somente agora estou tendo acesso e vou tentar aproveitar o máximo enquanto ao decorrer de minha fala.

Pois bem, para quem não me conhece ou finge não me conhecer, sou Max Kennedy, trabalho com teatro desde meus 7 anos de idade em Macau. Sou do tempo em que saímos da COHAB toda semana para vir fazer teatro aqui no CCAB e quem nos trazia na época era o amigo Ver. Dercio Cabral numa antiga Combi. Minha luta para fazer artes vem desde aquele tempo. Hoje sou ator e diretor teatral da Cia. Amagoa a qual tem um pequeno grupo aqui presente me acompanhando onde sei que não podem se manifestarem, mas vou pedir que apenas fiquem de pé para podermos visualizar. Cia. esta que esta na ativa há 13 anos trabalhando hoje com mais de 50 jovens no total com grupos e oficinas de teatro e dança. Cia. esta que realizou inúmeros projetos culturais dentro de Macau de grande porte com parceria com Prefeitura de Macau através da Fundação Municipal de Cultura, com Entidades e também com projetos independentes sem nenhum tipo de apoio ou verba. 


Esta Cia. amigos, traz no seu próprio nome o nome desta cidade, representando Macau por todo estado e sendo reconhecido mais fora desta cidade do que nela. Mas sem dúvida nenhuma, isso se deu por nosso público macauense que nos incentivam nessa resistência cultural há exatamente 13 anos. Nossa Cia. hoje é registrada e também é legalizada dentro dos sindicatos dos artistas. Hoje com 23 anos sou ator e diretor nesta cidade trabalhando com registro profissional no DRT, mérito este conquistado pelos próprios esforços sem nenhum apoio ou incentivo para isto. Mas não represento aqui somente a Cia. Amagoa. 

Represento toda classe artística que está parada no meio do caminho com enfado desta grande luta. Músicos, pintores, desenhistas, dançarinos, poetas, atores, que cansaram de carregar este fardo nas costas chamado cultura. Como diz a letra da musica do cantor macauense Deno Roberto “Macau tu és dona de tudo isso, eu não posso deixar de falar, pintores, poetas artistas, estão em todo lugar...”. Represento tudo isto e represento mais ainda uma classe jovem, que estão descobrindo suas habilidades artísticas em todas essas categorias. A cultura de Macau está no DNA, repassada de geração em geração. Mas amigos vereadores alguma coisa tem que ser feita. Sou filho de Valdemir Nunes, atual presidente da Fundação Municipal de Cultura, sou fruto do trabalho deste homem na cultura de Macau que conheço é claro desde pequeno. Como eu falei e lá em casa não é diferente, a cultura esta no sangue. Mas eu não vim aqui falar dos trabalhos realizados. Sou professor de teatro da Prefeitura na Fundação Municipal de Cultura com uma turma de mais de 25 jovens e a cada aula entrando mais. E justamente esse trabalho que me trouxe aqui. Conheço de perto a classe de jovens que participo, tão desacreditada, desvalorizada e perdida. As drogas hoje tomando conta de nossos jovens, jovens garotas conhecida em Macau como as “novinhas” se prostituindo cada vez mais e não queiram nem que eu diga dos homens que as procuram, coisas podres que enfiamos nas cabeças dos jovens com essas festas que acreditamos que estamos trazendo alegria para eles onde nem pra consolo serve. Bebidas sendo vendidas abertamente nestas festas em Macau para menores. Mas é claro, os empresários produtores de festas querem a todo custo seus lucros. Mas qual é a solução para isso amigos? O conselho tutelar? A cultura! Se todo dinheiro envolvido em campanhas contra isso e aquilo fosse distribuídas em grupos artísticos, teríamos a prática diária contra estas questões.

Vim aqui hoje pedi socorro!!! Algo tem que ser feito senhores vereadores... Não existe hoje nenhum projeto que incentive financeiramente estes grupos artísticos, e acreditem, em Macau não existe somente a Cia. Amagoa não. Tem vários outros grupos ai trabalhando de forma humilhante e voluntária com nossos jovens. Recentemente em agosto tivemos o evento de aniversário de nossa Cia. com uma semana de apresentações, alugamos o Porto de Ama, Teatro do Ressurreição e Lions Clube porque não temos mais a Casa de Cultura e o Teatro Hianto de Almeida. Gastamos com divulgação, montagem dos espetáculos, em figurinos, maquiagens, contrato de terceiros, entre muitas coisas... 

Entregamos no comércio mais de 30 ofícios pedindo apoio de patrocínios e somente 2 atenderam nosso pedido. Vários “não” com as desculpas mais esfarrapadas que ouvi. E pasme, os valores eram de R$ 50 ou R$ 100. E os dois que nos ajudaram financeiramente não foram grandes empresas de Macau. Mas hoje vemos estas grandes empresas de Macau patrocinando e APRESENTANDO algumas das futuras festas que teremos em Macau onde mais uma vez os jovens serão o público alvo nas bilheterias e nos bares. Não tenho vergonha de dizer, nossa Cia. tivemos um saldo negativo de R$ 3.500,00 que estamos lutando para tirar este dinheiro com vendas de shows para pagarmos esta dívida, mas com a certeza na mente que será uma luta árdua porque em Macau só se paga bem a quem vem de fora. Agora vamos há alguns dados importantes... Inicio do ano, Escolas de Samba de Macau recebem R$ 8.000,00 em ajuda do governo cada uma com premiação de R$ 5.000,00 primeiro colocado, R$ 3.000,00 segundo colocado e R$ 2.000,00 terceiro colocado. Maravilha, uma conquista cultural merecida. Não sou contra em hipótese alguma. Continuando... No meio do ano, Quadrilhas Juninas de Macau, R$ 22.000,00 mil pra cada quadrilha estilizada de Macau que no caso são apenas duas. E alguns outros valores de incentivo as de categoria matuta e comédia e com premiações para o vencedor do festival, claro. Tendo na categoria estilizada R$ 3.000,00 mil para o primeiro colocado, R$ 2.000,00 mil para o segundo e R$ 1.000,00 para o terceiro que são quadrilhas de outras cidades que competem e levam esta premiação. Mais um marco cultural também é a favor e é merecido. O trabalho com o festival de quadrilhas em nossa cidade hoje é um marco em todo estado e as nossas quadrilhas também muito bem nos representam fora trazendo grandes títulos. Mas minha meta ao mostrar esses valores aqui é a seguinte: inicio do ano 8 mil para cada escola de samba, meio do ano 22 mil para cada quadrilha estilizada de Macau, nossa Cia trabalha o ano inteiro e o valor repassado para realizarmos esta tarefa é de R$ 0.000,00... O único dinheiro que entra na Cia. é através de apresentações com contratos mal dando para pagar nossos figurinos, maquiagens e cenário. E quando cobramos R$ 5,00 da população para podermos pagar o prédio e os gastos o povo de Macau humilhantemente diz que ta caro. Mas esse mesmo povo lotava todos os dias um circo em Macau por R$ 10 a R$ 15. Até várias autoridades iam prestigiar o circo e em nossa programação de aniversário, para não ser injusto, só pude ver a Ver. Geruza em nossas apresentações de aniversário. Repito: não vim aqui denegrir governo. Faço parte deste governo e temos vários projetos importantes na Prefeitura através da Fundação. Mas vim aqui pedir socorro para estes jovens artistas que trabalham independentes e sem verbas. Eu não sei de que forma os senhores vereadores podem nos ajudar, se é com a criação de algum projeto ou lei de incentivo, não sei. Mas sei que vim na casa certa para buscar este apoio.

Cultura não se reduz, como muitos pensam, apenas em entretenimento ou passatempo. Ela é, também, um veículo de transformação e renovação de um grupo social. É preciso encará-la como educação. Educação através da música, da poesia, da literatura, das artes plásticas, do teatro, do cinema, do vídeo... Cultura é educar o povo. É fomentar políticas que promovam o debate, a pesquisa, a inclusão social e a conscientização do dever de preservar o ambiente urbano. É trabalho do dia-a-dia e não apenas do Dia da Cultura. É ensinar o povo a se expressar com clareza para melhor ser ouvido. A ter bons hábitos e costumes, noção de valores que formam a sua identidade, noção de regras de conduta, de higiene, de saúde, de sistemas de crenças. Ensiná-lo a não jogar lixo no chão, a plantar uma árvore e uma flor. A respeitar o Patrimônio Público, a casa onde mora, a rua que pisa, o gramado do jardim, o banco da praça onde se senta ou dorme, por infelicidade do destino. Cultura é reciprocidade de interesses e de ideais. É a luz que ilumina o caminho e abre as portas da compreensão mútua e da percepção. Cultura é tudo. Representa um todo integrado, em que cada pessoa se articula com as demais. É exclusividade do ser humano, porque ele é quem faz Cultura para legar às gerações futuras. É memória. É história. É filosofia. É arma contra a violência , contra as drogas e contra a criminalidade." 

Nenhum comentário:

Postar um comentário