quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Cinzas...

Saudade de véspera.
Fotomontagem: Canindé Soares, Alex Gurgel, Regina Barros, Nazareno Félix, Irineu, e Renan Bibeiro

Corre o ano da graça de dois mil e doze. Às 6h02min da manhã de Quarta-feira, a das Cinzas, o vocalista do Grafith, a mais longeva e melhor banda de baile do Nordeste brasileiro, com raízes literalmente "enfincadas" nas Terras Salgadas de Macau, proferiu as últimas palavras do Carnaval: "Tchau, Macau...".

E agora, o trabalho ficará para padres, pastores e "brothers" em geral... As cinzas já estarão esperando em cada templo; a última dose de cachaça, o último copo de cerveja, e o último beijo no(a) desconhecido(a) estarão aguardando o(a) último(a) folião(ã) em qualquer canto dessa terra; e os automóveis, também parte dessa festa, sinal de novos tempos em nosso país, transformam as ruas de Macau, todas, numa via em que só tem passagem livre os brincantes, de todas as fés de todos os gêneros e de todas as idades...

Inclusive os que já rezavam aos céus para a festança terminar.

Tantos tratores - "enfincadores" incontestes dos últimos e poderosos blocos que elitizavam nossos carnavais -,  pequenos blocos de amigos e familiares, engatam a marcha ré às suas garagens; os paredões, os famigerados paredões, cobrem-se numa mudeza providencial, dando passagem às lembranças nas mentes dos milhares de foliões dos últimos acordes...

E na terra que jamais fez acepção de pessoas, e que é acolhedora por natureza, em sua geografia, e na forma como os nativos salineiros recebem os seus convivas  nessa época em que Momo, irmanado ao imprescindível Baco, decreta o fechamento de todas as portas do puritanismo e da hipocrisia!
, "Salve o grande Momo! Evoé, Baco!",  todas as bocas, todas as vontades, todos os desejos se transformam numa só prece murmurada, silenciosa, premeditada até: "Ah, meu Deus, fazei com que 2013 chegue logo!".

As calçadas das casas mais humildes se transformam no mais aconchegante lar para os que aqui vêm nos visitar; os que aqui chegam, transformam-se imediatamente num parente que há tempos não víamos, transformam-se em irmãos.

Os veteranos foliões já não fazem comparações; e já se preparam em magotes para a próxima festa. Os neófitos, num contágio de emoção, de prazer e de alegria em campo aberto, como nos tempos do "Paz e Amor", do "Make love not war", sonham com o futuro zipado em doze meses, se perguntando como foi possível não ter vindo antes. Nesta Terra Acolhedora, até "novos baianos" e "novos pernambucanos" vão sentir saudades. Uma criança, sem sequer imaginar o que está dizendo, entoa o hino da época, alegre, arrastada pelo braço da mãe visivelmente feliz e também extenuada: "Ai, delícia, assim você me mata"... É a prece de todos e todas que hoje podem dizer que vieram, viram e sentiram, na sua mais profunda e acolhedora manifestação, o maior carnaval do mundo.

Escrito em cartolina, um cartaz no nosso Mela-mela (sim, com maiúscula, sim!) gritava: “Somos de Olinda! Estamos em Macau!” Orgulho maior não existe. É o “Carnaval em Macau, é emoção, é paixão!”... Num quiosque que nunca fecha, no meio da algazarra das últimas godelas, ouve-se a ginga e a sabedoria de Marrocos nos versos iniciais da canção falando sobre “Este cheirinho que vem lá do mar, me faz recordar o meu querido chão...”. Agora os cães de todas as espécies ladram... E uma saudade de véspera cobre a acolhedora, e a agora e sempre “calma e boa” terra de Macau.

Nazareno Félix

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