terça-feira, 30 de outubro de 2012


ESTUDANTE MACAUENSE É SEMIFINALISTA 
NA OLIMPÍADA BRASILEIRA DE LÍNGUA PORTUGUESA
                                                                                                                  Foto: Nazareno Félix

Maria José Cavalcante Barbosa Cavalcante, 14 anos, aluna do 9º ano I da Escola Estadual Professora Maria de Lourdes Bezerra, em Macau-RN, é uma das finalistas da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa das escolas públicas, na categoria Crônica.
                                                                                                                  Foto: Nazareno Félix
Com a crônica Poluição Eleitoral, que trata da rotina barulhenta em épocas de eleição municipal, Maria José obteve a classificação nas etapas iniciais do concurso, tornando-se uma das duas únicas semifinalistas do Rio Grande do Norte.

                                                                                                                    Foto: Jenilson Lima

UFRN - Formação Continuada














segunda-feira, 29 de outubro de 2012

sábado, 27 de outubro de 2012

Continuando



Continuar? Continuar o quê?

Moral, Direito, Ciência e Religião
Jônathas Silveira

Apesar de considerar o aborto uma ação moralmente reprovável, acredito que quando falamos em interrupção terapêutica da gravidez em caso do anencéfalo, estupro, gravidez de risco estamos diante de outros quinhentos muito distantes de 1500. Nesses casos, como o centro de gravidade da questão se transfere para a mãe em sua ontologia biológica, - seu direito à vida e sua dignidade de ser humano - acredito que os julgamentos morais são intempestivos e, portanto, inócuos. É a lei da vida: antes de dever ser, precisamos ser, existir, viver no sentido biológico da coisa.

Para analisar a questão numa perspectiva jurídico-filosófica, como acadêmico de Direito picado pelo mosquito da dengue verborrágica, não posso deixar de citar um pedaço da obra do historiador inglês Henry Thomas Buckle (1821- 1862), transcrevendo as palavras do jurisconsulto espanhol Sempere y Guarinos. Nele, vemos como era o direito Português à época da hegemonia da Igreja Católica, no tempo em que o Brasil foi invadido pela Lusitânia: "Los querellantes lesionados por la sentencia de un juez, podian quejarse a los bispos, y estos avocar a si las pendencias, reformarlas y castigar a los magistrados".

Como é de se observar, o direito canônico, que prezava pelo suplício do corpo, os ascetismo, hoje em dia, é coisa de livro de história. A moral religiosa na sociedade pós-moderna já não contemporiza com as liberdades e garantias que, há muito, a civilização ocidental vem conquistando. As bases de sustentação do discurso jurídico ocidental contemporâneo, sem dúvidas, passaram dessa fase. Há quem diga até que vivemos uma pós-metafísica, como queria a profecia do anticristo , ou melhor de Nietzsche.

Na minha formação pessoal, a religião teve, e tem, papel fundamental. “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêm”. Sou humano demais para me desvincular desse alicerce. Creio e amo a Deus, mas não posso deixar que a minha fé destrua a vida do próximo. Não é esse o cerne da filosofia cristã: amai ao próximo como a ti mesmo? A infração do princípio sacrossanto do amor ao próximo faria de mim o maior dos heréticos (se o direito canônico fosse interpretado dentro de padrões hermenêuticos lógico-jurídicos não sobraria um padre para contar a história). O amor ao próximo, por sua vez, pressupõe o respeito ao seu livre arbítrio.

Assim sendo, como podemos dizer que amamos as nossas mulheres se queremos privá-las de suas liberdades fundamentais?

Já dizia o cantor: “O amor só dura em liberdade, o ciúme é só vaidade. Sofro, mas eu vou te libertar. Infinita é tua beleza. Como podes ficar presa que nem santa no altar?”. E fecha com chave de ouro: “ O que é que eu quero se eu te privo do que eu mais venero (....)?"

Não vou nem dizer quem era esse cantor. Citar dois anticristos na mesma carta é critério para excomunhão.

Jônathas Silveira, macauense, é acadêmico de Direito.

sábado, 20 de outubro de 2012


O JANTAR PEDAGÓGICO
Ao mestre com carinho...

A luta de um grupo de professores da rede pública municipal de Macau por melhores condições de trabalho e valorização transformou-se num marco da história da Educação do nosso município nestes últimos oito anos.
Organizados e representados pelo SINTE-RN/Regional de Macau, os profissionais do magistério realizaram em 9 de setembro de 2011 um dos maiores atos de protesto contra uma administração do município.
Vestidos com camisetas pretas, lutando pelo respeito e valorização, os professores e professoras levaram ao conhecimento do público que assistia ao desfile o quadro de descaso da administração de Macau para com a Educação.
Hoje, com exceção das pinturas nas escolas, quase nada mudou desde aquele desfile: a estrutura da rede física continua a mesma de 30, 40 anos. O concurso público para preenchimento de vagas na educação continua prometido, o prefeito foge da expressão “valorização do professor” como o diabo foge da cruz. E mais alarmante para a categoria e para a educação é que esta continua sendo perspectiva para a administração que começa a partir de 1º de janeiro de 2013.
Para a alegria deles, prefeito, e desonra nossa, entretanto, pão e circo não tem faltado.
Nos últimos vinte anos, os sabidos prefeitos e seus sabidos secretários de Educação descobriram uma forma quase perfeita, semelhante àquela utilizado na Roma antiga, para “valorizar e reconhecer” a importância da Educação e dos seus profissionais para o desenvolvimento do município: o “jantar dos professores”.
Ontem, sexta 19, enquanto o cantor cantava para o professor dançar, os animadores do evento se esbaldaram em mensagens belíssimas de encorajamento. Os brindes não chegam a todos, mas a imensa maioria sente-se realizada quando um(a) colega acerta os versos de uma música e ganha o prêmio...A cerveja, em lata - fato importante para se compreender tamanha anestesia - é gratuita e sobra.
Este jantar é um recorte perfeito da Educação e vem revelar o porquê dos péssimos e vergonhosos índices nas últimas avaliações oficiais do MEC.
E se a categoria se contenta com migalhas, não percebendo o que está acontecendo à sua volta? E se não faz uma reflexão sobre a importância do seu compromisso, da necessidade de ver a educação como um ato político de formação das gerações de alunos que “passam pelas suas mãos”?
E se a categoria não consegue enxergar a situação de desvalorização e de descaso da administração, o que se pode se esperar?
O pedagógico jantar.
E o patético espetáculo chega ao fim.

P.S: a cerveja foi em lata. Se fosse em garrafa talvez algum professor tivesse se lembrado que o prefeito disse em 2011 que “ia massacrar o professor como se faz  com uma tampinha de garrafa”.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012


Comemorar o quê?

A cada ano o calendário, em nosso país, marca o dia de hoje, 15 de outubro, como aquele dedicado aos seus mestres. Que mestre é este que não é ouvido nos seus mais íntimos e legítimos anseios?
O que comemorar neste dia?
Os discursos fáceis? As promessas repetidas? O desrespeito? A desvalorização? A aposentadoria precoce? A queda assustadora da qualidade de vida? O desencanto? A falta de perspectiva?
A falta de uma política pública para a Educação por parte do gestor municipal?
A covardia de colegas de profissão que se omitem?
Isto e mais um pouco compõe o retrato lastimável do profissional da educação no Brasil. Este é o quadro vergonhoso do professor de Macau.
O que comemorar?
Nosso Compromisso.
O compromisso que temos, todos os dias, de sair de casa e enfrentar e fazer funcionar aos trancos e barrancos as nossas bem pintadas e abandonadas escolas.
O compromisso, por cima de pau e pedra, de preparar nossa aula nos finais de semana, à meia-noite, nos feriados, enquanto, mães de família e donas de casa, nos preocupamos com nossos deveres de mãe ou pai, e nossa responsabilidade com o nosso aluno.
Comemorar o instante mágico em que o nosso aluno, com a nossa ajuda, verbaliza sua primeira leitura numa oralidade que nos emociona.
Comemorar, ainda, os companheiros que na nossa entidade sindical, nos representam com denodo, coerência e compromisso na luta pelos nossos direitos.
Lembrar-se dos companheiros que estiveram nesta luta conosco e que hoje estão na nossa lembrança...
Comemorar a crença da comunidade no Dia do Professor...
Comemorar, a partir de todos os compromissos que temos com o estudante macauense, a crença que ainda temos em nós mesmo de querer e poder mudar para melhor a vida da comunidade e a nossa própria vida.
No dia do professor, “Você pode até dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único. Eu espero o dia, colega professor, em que você se juntará a nós”...
Então teremos,  juntos, mais o que comemorar.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Homenagem


Àquela criança


A criança que fui sonhava com um mundo bem diferente deste em que me encontro hoje. Não poderia ser diferente. Com as minhas certezas de então, creio que os meus sonhos eram os mesmos de toda e qualquer criança em qualquer tempo.
Comer, tomar banho? Nem pensar.
Apenas brincar. Brincar, brincar, brincar o tempo todo. Apenas a fome, quando insuportável, ganhava importância. Era eu o herói de aventuras de mundos imaginários, e perfeitos, ali mesmo nas calçadas da minha rua.
Um pedaço de pau, um cabo de panela, uma escova de dente, um frasco de perfume, um cabo de vassoura, uma lata redonda que servia para a minha roladeira, os pedaços de borrachas das câmaras de ar com um gancho de algaroba transformavam-se em baladeiras, as tradicionais brincadeiras no chão de lama salitrada das nossas ruas - bandeirinha, garrafão, sete pecados - ou as folhas de um jornal velho que, dobradas, me tornava um destemido soldado.
Barroca, com bilocas que crianças de outras regiões chamam de bolinhas de gude, a imprescindível mancha de tropa (esta servia como desculpa para darmos voltas por outras ruas próximas das nossas). Uma meia, muitas vezes surrupiada do irmão mais velho ou de papai, cheia de retalhos de tecidos, e tínhamos então a nossa Bola, nosso bolão.
Em minhas mãos, entre tantos outros equipamentos, os brinquedos se transformavam nos poderosos e infalíveis instrumentos das minhas aventuras. Num cavalo de pau eu empreendia minha luta numa batalha que vencia sempre. Adormecia certo de que aquela havia sido uma vitória importante...
 As grandes e inimagináveis batalhas só perdiam em importância quando, acabado os sonhos daquele dia, mamãe anunciava a hora de dormir. Apenas a voz firme de mamãe e o banho antes de dormir metia medo...
A alta tecnologia não havia ainda chegado às nossas casas, nem às nossas mãos. Era o artesão perfeito dos equipamentos necessários para as minhas aventuras. Não ouvíamos clic nem conseguíamos imaginar o enter dos dias de hoje...
Meus sonhos de então eram construídos – sem eu saber – para uma rua, uma cidade, um país, um mundo em que a todos fosse reconhecido o direito do necessário para uma vida digna.
Herói-criança, nas minhas aventuras lutava contra a fome, a guerra, o abandono, o preconceito, a desigualdade, entre tantos outros conceitos criados pelo homem para nominar a parte pior dos seus instintos, todos grandes inimigos da humanidade.
E, como se ainda estivesse sonhando, minha memória me traz o instante em que um dia, ao acordar, vi embaixo da minha rede um carrinho de plástico que meu Herói trouxera da feira no dia 11, verde com rodinhas vermelhas. Simples e inesquecível.
Ainda não sabia de certo Cavaleiro da Triste Figura...
Hoje, ainda sonho com a criança que fui e felizmente alimento os mesmos sonhos. Sou grato àquela criança.

Manoel Nazareno Félix da Silva


terça-feira, 2 de outubro de 2012


EDUCAÇÃO BRASILEIRA: RIR PARA NÃO CHORAR?
Marcos Bagno


Enquanto prossegue a longa greve dos professores das universidades federais (uma enorme decepção para os que pensávamos que os governos populares fariam esforços para corrigir 500 anos de descaso no campo da educação), procuro entender de que modo certos hábitos refletem o elitismo que sempre tem caracterizado o nosso acesso à cultura letrada. Com irritante frequência, alguém publica nas redes sociais fotos de placas, letreiros, catazes etc. contendo erros de ortografia. Logo essas fotos são compartilhadas por milhares de pessoas, acompanhadas de comentários do tipo “pobre português”, “vamos salvar nossa língua”, “onde está nossa educação?” e outras bobagens da mesma ordem. Mas esses comentários são os menos numerosos: os que de fato dominam essas postagens são do gênero “rs”, uhahuahua” ou “kkkkk”, quando não o estúpido “lol”, que só faz sentido para os falantes de inglês.

O elitismo dessas postagens e os seus comentários é evidente porque ignora solenemente alguns fatos óbvios e trágicos. O primeiro deles é que essas placas e letreiros são produzidas por pessoas com baixíssima escolarização e, portanto, pertencentes às camadas sociais mais desprestigiadas da nossa população, que ainda são maioria num país que, apesar de alguns avanços, apresenta índices escandalosos de desigualdade econômica. Ninguém que escreveu esses letreiros estava querendo errar de propósito para provocar risos: estava simplesmente tentando acertar, usando o pouco que sabe da ortografia oficial para anunciar algum serviço ou vender algum bem. O segundo fato é que há dez anos consecutivos, os índices de letramento dos brasileiros permanecem horrorosamente os mesmos: apenas 25% da nossa população entre 14 e 65 anos é capaz de ler e assimilar um texto de complexidade mediana e de realizar cálculos matemáticos mais complexos. Vendo pelo outro ângulo, 75% dos brasileiros são analfabetos plenos ou analfabetos funcionais, o que dá quase 150 milhões de pessoas, um número superior à população inteira do México, por exemplo, ou igual à soma das populações da França e da Alemanha.

Também se percebe esse elitismo no fato de que as mesmas pessoas que se divertem com os erros dos analfabetos funcionais emitem seus comentários cometendo erros tão ou mais graves que os de seus compatriotas pouco letrados. Ou seja: o erro é sempre do outro, o do que está abaixo na escala social.

A educação brasileira é uma grande farsa. E 90 por cento da nossa educação superior, pelo menos aquela que deveria formar educadores, é uma imensa picaretagem. Falo de dentro do sistema, por isso não posso ser acusado de não conhecer as entranhas do monstro. Pessoas saem diplomadas a rodo, por exemplo, como professores de língua(s) sem a mais remota condição de ensinar, já que seu conhecimento é ralo e raso. Em qualquer país decente jamais receberiam um diploma.

E a coisa prossegue na pós-graduação. Senão, vejamos: “Para esse estudioso, a partir do momento em que a língua se torna posse de todos, foge do controle daqueles que a cria. Todavia, Saussure alerta que a unidade linguística pode ser destruída quando um idioma natural sobre a influência de uma língua literária, que ocorre sempre que o povo alcança certo grau de civilização”. Isso era para ser uma tese de doutorado. Por que rir de quem escreve “A Flor do Zinco” por “afrodisíaco”, sendo semianalfabeto, e não chorar diante de uma “tese” produzida por alguém que se diz docente de língua portuguesa?

FALAR BRASILEIRO
Caros Amigo, setembro 2012, p. 6