RESISTÊNCIA CULTURAL
Repúdio em favor de uma classe de jovens artistas
Por Max Kennedy
"Senhores vereadores, plenária, amigos da mídia, classe artística
aqui presente, minhas saudações.
Nunca pensei que fosse tão difícil poder estar aqui hoje para em poucos minutos
poder expressar alguns desabafos que há muito tempo estar engasgado no meio
artístico. No dia 22 de Maio deste ano, há exatamente 5 meses e 13 dias para
ser mais exato, enviei um oficio a esta casa solicitando a tribuna e somente
agora estou tendo acesso e vou tentar aproveitar o máximo enquanto ao decorrer
de minha fala.
Pois bem, para quem não me conhece ou finge não me conhecer, sou Max Kennedy,
trabalho com teatro desde meus 7 anos de idade em Macau. Sou do tempo em que
saímos da COHAB toda semana para vir fazer teatro aqui no CCAB e quem nos
trazia na época era o amigo Ver. Dercio Cabral numa antiga Combi. Minha luta
para fazer artes vem desde aquele tempo. Hoje sou ator e diretor teatral da
Cia. Amagoa a qual tem um pequeno grupo aqui presente me acompanhando onde sei
que não podem se manifestarem, mas vou pedir que apenas fiquem de pé para
podermos visualizar. Cia. esta que esta na ativa há 13 anos trabalhando hoje
com mais de 50 jovens no total com grupos e oficinas de teatro e dança. Cia.
esta que realizou inúmeros projetos culturais dentro de Macau de grande porte
com parceria com Prefeitura de Macau através da Fundação Municipal de Cultura,
com Entidades e também com projetos independentes sem nenhum tipo de apoio ou
verba.
Esta Cia. amigos, traz no seu próprio nome o nome desta cidade,
representando Macau por todo estado e sendo reconhecido mais fora desta cidade
do que nela. Mas sem dúvida nenhuma, isso se deu por nosso público macauense
que nos incentivam nessa resistência cultural há exatamente 13 anos. Nossa Cia.
hoje é registrada e também é legalizada dentro dos sindicatos dos artistas.
Hoje com 23 anos sou ator e diretor nesta cidade trabalhando com registro
profissional no DRT, mérito este conquistado pelos próprios esforços sem nenhum
apoio ou incentivo para isto. Mas não represento aqui somente a Cia. Amagoa.
Represento toda classe artística que está parada no meio do caminho com enfado
desta grande luta. Músicos, pintores, desenhistas, dançarinos, poetas, atores,
que cansaram de carregar este fardo nas costas chamado cultura. Como diz a
letra da musica do cantor macauense Deno Roberto “Macau tu és dona de tudo isso,
eu não posso deixar de falar, pintores, poetas artistas, estão em todo
lugar...”. Represento tudo isto e represento mais ainda uma classe jovem, que
estão descobrindo suas habilidades artísticas em todas essas categorias. A
cultura de Macau está no DNA, repassada de geração em geração. Mas amigos
vereadores alguma coisa tem que ser feita. Sou filho de Valdemir Nunes, atual
presidente da Fundação Municipal de Cultura, sou fruto do trabalho deste homem
na cultura de Macau que conheço é claro desde pequeno. Como eu falei e lá em
casa não é diferente, a cultura esta no sangue. Mas eu não vim aqui falar dos
trabalhos realizados. Sou professor de teatro da Prefeitura na Fundação
Municipal de Cultura com uma turma de mais de 25 jovens e a cada aula entrando mais.
E justamente esse trabalho que me trouxe aqui. Conheço de perto a classe de
jovens que participo, tão desacreditada, desvalorizada e perdida. As drogas
hoje tomando conta de nossos jovens, jovens garotas conhecida em Macau como as
“novinhas” se prostituindo cada vez mais e não queiram nem que eu diga dos
homens que as procuram, coisas podres que enfiamos nas cabeças dos jovens com
essas festas que acreditamos que estamos trazendo alegria para eles onde nem
pra consolo serve. Bebidas sendo vendidas abertamente nestas festas em Macau
para menores. Mas é claro, os empresários produtores de festas querem a todo
custo seus lucros. Mas qual é a solução para isso amigos? O conselho tutelar? A
cultura! Se todo dinheiro envolvido em campanhas contra isso e aquilo fosse
distribuídas em grupos artísticos, teríamos a prática diária contra estas
questões.
Vim aqui hoje pedi socorro!!! Algo tem que ser feito senhores
vereadores... Não existe hoje nenhum projeto que incentive financeiramente
estes grupos artísticos, e acreditem, em Macau não existe somente a Cia. Amagoa
não. Tem vários outros grupos ai trabalhando de forma humilhante e voluntária
com nossos jovens. Recentemente em agosto tivemos o evento de aniversário de
nossa Cia. com uma semana de apresentações, alugamos o Porto de Ama, Teatro do
Ressurreição e Lions Clube porque não temos mais a Casa de Cultura e o Teatro
Hianto de Almeida. Gastamos com divulgação, montagem dos espetáculos, em
figurinos, maquiagens, contrato de terceiros, entre muitas coisas...
Entregamos
no comércio mais de 30 ofícios pedindo apoio de patrocínios e somente 2
atenderam nosso pedido. Vários “não” com as desculpas mais esfarrapadas que
ouvi. E pasme, os valores eram de R$ 50 ou R$ 100. E os dois que nos ajudaram
financeiramente não foram grandes empresas de Macau. Mas hoje vemos estas
grandes empresas de Macau patrocinando e APRESENTANDO algumas das futuras
festas que teremos em Macau onde mais uma vez os jovens serão o público alvo
nas bilheterias e nos bares. Não tenho vergonha de dizer, nossa Cia. tivemos um
saldo negativo de R$ 3.500,00 que estamos lutando para tirar este dinheiro com
vendas de shows para pagarmos esta dívida, mas com a certeza na mente que será
uma luta árdua porque em Macau só se paga bem a quem vem de fora. Agora vamos
há alguns dados importantes... Inicio do ano, Escolas de Samba de Macau recebem
R$ 8.000,00 em ajuda do governo cada uma com premiação de R$ 5.000,00 primeiro
colocado, R$ 3.000,00 segundo colocado e R$ 2.000,00 terceiro colocado.
Maravilha, uma conquista cultural merecida. Não sou contra em hipótese alguma.
Continuando... No meio do ano, Quadrilhas Juninas de Macau, R$ 22.000,00 mil
pra cada quadrilha estilizada de Macau que no caso são apenas duas. E alguns
outros valores de incentivo as de categoria matuta e comédia e com premiações
para o vencedor do festival, claro. Tendo na categoria estilizada R$ 3.000,00
mil para o primeiro colocado, R$ 2.000,00 mil para o segundo e R$ 1.000,00 para
o terceiro que são quadrilhas de outras cidades que competem e levam esta
premiação. Mais um marco cultural também é a favor e é merecido. O trabalho com
o festival de quadrilhas em nossa cidade hoje é um marco em todo estado e as
nossas quadrilhas também muito bem nos representam fora trazendo grandes
títulos. Mas minha meta ao mostrar esses valores aqui é a seguinte: inicio do
ano 8 mil para cada escola de samba, meio do ano 22 mil para cada quadrilha
estilizada de Macau, nossa Cia trabalha o ano inteiro e o valor repassado para
realizarmos esta tarefa é de R$ 0.000,00... O único dinheiro que entra na Cia.
é através de apresentações com contratos mal dando para pagar nossos figurinos,
maquiagens e cenário. E quando cobramos R$ 5,00 da população para podermos
pagar o prédio e os gastos o povo de Macau humilhantemente diz que ta caro. Mas
esse mesmo povo lotava todos os dias um circo em Macau por R$ 10 a R$ 15. Até
várias autoridades iam prestigiar o circo e em nossa programação de
aniversário, para não ser injusto, só pude ver a Ver. Geruza em nossas
apresentações de aniversário. Repito: não vim aqui denegrir governo. Faço parte
deste governo e temos vários projetos importantes na Prefeitura através da
Fundação. Mas vim aqui pedir socorro para estes jovens artistas que trabalham
independentes e sem verbas. Eu não sei de que forma os senhores vereadores
podem nos ajudar, se é com a criação de algum projeto ou lei de incentivo, não
sei. Mas sei que vim na casa certa para buscar este apoio.
Cultura não se reduz, como muitos pensam, apenas em entretenimento ou
passatempo. Ela é, também, um veículo de transformação e renovação de um grupo
social. É preciso encará-la como educação. Educação através da música, da
poesia, da literatura, das artes plásticas, do teatro, do cinema, do vídeo... Cultura
é educar o povo. É fomentar políticas que promovam o debate, a pesquisa, a
inclusão social e a conscientização do dever de preservar o ambiente urbano. É
trabalho do dia-a-dia e não apenas do Dia da Cultura. É ensinar o povo a se
expressar com clareza para melhor ser ouvido. A ter bons hábitos e costumes,
noção de valores que formam a sua identidade, noção de regras de conduta, de
higiene, de saúde, de sistemas de crenças. Ensiná-lo a não jogar lixo no chão,
a plantar uma árvore e uma flor. A respeitar o Patrimônio Público, a casa onde mora,
a rua que pisa, o gramado do jardim, o banco da praça onde se senta ou dorme,
por infelicidade do destino. Cultura é reciprocidade de interesses e de ideais.
É a luz que ilumina o caminho e abre as portas da compreensão mútua e da
percepção. Cultura é tudo. Representa um todo integrado, em que cada pessoa se
articula com as demais. É exclusividade do ser humano, porque ele é quem faz
Cultura para legar às gerações futuras. É memória. É história. É filosofia. É
arma contra a violência , contra as drogas e contra a criminalidade."
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