terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Educação e Cidadania

Cinquentenário: "De pé no chão também se aprende a ler"

Por Gerlane Lima

Projeto implantado na gestão do ex-prefeito de Natal, Djalma Maranhão, foi lembrado na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados.

A Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados (CEC) fará uma audiência pública nesta terça-feira (13) para homenagear os 50 anos da campanha de alfabetização “De pé no chão também se aprende a ler”, realizada em Natal no início da década de 60. A audiência também discutirá a influência dos pensamentos de Paulo Freire na campanha e na educação do país.

O embrião de "De pé no chão também se aprende a ler" foi formatado durante a campanha de Djalma Maranhão para prefeito da cidade. A população se organizara em comitês de bairros, e a principal reivindicação era, de longe, a erradicação do analfabetismo. A capital possuía 160 mil habitantes, 37% deles analfabetos.

Ao assumir, e sem recursos para o aluguel de salas, Djalma Maranhão solicitou a sindicatos, igrejas, clubes de futebol e residências particulares para que abrissem suas portas e abrigassem as “escolinhas”. A primeira escola ecológica não possuía paredes, nem uniforme, nem sapato. O teto era de palha de coqueiro. Em 1962 já eram dez “acampamentos escolares”, com teatro de arena, espaço de lazer e bibliotecas populares distribuídos nos quatro cantos da cidade.
Os adultos que não frequentavam as escolas começaram a receber aulas em suas casas; os alunos aprenderam profissões; os professores receberam formação continuada; a campanha se interiorizou. Em 1964 foi extinta pelo Golpe Militar. Já alfabetizara 25 mil alunos e democratizara a cultura popular da cidade como nunca antes havia acontecido.

Foram convidados para participar da audiência pública, a psicanalista e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Clara Raissa de Góes da Rosa Silva, filha do educador Moacir de Goés, que implantou a campanha “De pé no chão também se aprende a ler”, em Natal; o professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) José Willington Germano; e o cardiologista Geniberto Paiva Campos, membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

Paulo Freire

Autor do livro Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire é considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado Pedagogia Crítica. A sua prática didática fundamentava-se na crença de que o educando assimilaria o objeto de estudo fazendo uso de uma prática dialética com a realidade, em contraposição a por ele denominada educação bancária, tecnicista e alienante. O educando criaria sua própria educação, fazendo ele próprio o caminho, e não seguindo um já previamente construído.

“Pedagogo reverenciado no Brasil e no mundo, Paulo Freire é autor de um método de alfabetização e de uma prática de ensino-aprendizagem que ainda influencia profundamente a educação em todos os continentes, especialmente naqueles países em que o déficit educacional de letramento, em termos percentuais, alcança os dois dígitos”, argumentou a professora e deputada Fátima Bezerra (PT/RN), autora do requerimento para a realização da audiência. “Educar não é apenas um ato pedagógico e, também, um ato político, pois antes de compreender as palavras, é preciso compreender o mundo”.


Durante mais de 15 anos, entre as décadas de 1950 e 1960, o pedagogo dedicou-se às experiências no campo da educação de adultos em áreas proletárias e subproletárias, urbanas e rurais, em Pernambuco. Seu método de alfabetização nasceu dentro do MCP – Movimento de Cultura Popular do Recife – a partir dos Círculos de Cultura, onde os participantes definiam as temáticas junto com os educadores. Nesses grupos populares, ele identificou resultados tão positivos que passou a se questionar se não seria possível fazer o mesmo em uma experiência de alfabetização.

Em 1961, Paulo Freire lançou em Recife (PE), seu método revolucionário que alfabetizava em 40 horas, sem cartilha ou material didático. Foi com base neste ideario que surgiu a campanha “De Pé no Chão Também se Aprende a Ler” em Natal sob a liderança de Moacyr de Góes.

Com o golpe militar de 1964, a experiência de Paulo Freire, já espalhada por todo o país, foi abortada sob a alegação de que era subversiva, propagadora da desordem e do comunismo. A cartilha do MEB foi rasgada diante das câmeras de televisão, no Programa Flavio Cavalcanti, depois de ter sido proibida, no extinto Estado da Guanabara, pelo então Governador Carlos Lacerda.

Considerado inimigo do Estado, Paulo Freire teve de se refugiar na Bolívia, único país latino-americano a lhe dar asilo político. Morou um tempo na Europa e voltou para o Brasil depois da anistia, em 1979.
“Nesse tempo de resgate da Memória, da Verdade e da Justiça, queremos com essa audiência pública reverenciar tanto a campanha como o importante educador Paulo Freire pelo legado que ele deixou para a educação brasileira e a contribuição que ainda dá neste momento em que estamos às voltas da aprovação de um dos projetos mais importantes para a educação brasileira que é o Plano Nacional de Educação. Que Paulo Freire nos inspire nessa luta., afinal é o projeto de nação que está em jogo. Uma nação que se pretende generosa, com democracia, liberdade, cidadania, emprego, distribuição de renda e inclusão social tem que reconhecer o caráter estratégico da Educação como um direito e um bem público e universal", disse Fátima Bezerra.


Um comentário:

  1. Paulo Freire empregou o ideário "De Pé no Chão Também se Aprende a Ler". Em Macau, Flávio Veras e Aladim apregoam o Projeto "Uma Feira Para Cada Aluno", ou seja,"barriga cheia, pé na bunda!".


    Emília do Ferreiro

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