quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Macau - Dia da Criança

12 de Outubro de 2011. Festa da Criança Macauense
O prefeito constitucional de Macau ordenou e os seus subalternos mais próximos cumpriram. E o feriado de 12 de outubro de 2011 é anunciado pela voz alegre e potente do locutor oficial.

Chororó é uma das atrações. Chororó é o palhaço, espécie de bobo da corte, que foi contratado para dar à festa da criança macauense o indefectível tom circense. O pão vem em forma de cachorro-quente, acompanhado de refrigerante. Uma espécie de arco-íris em semicírculo serve de fundo para o imenso palco. Um artista da terra abre o evento com uma música infantil que foi sucesso a cerca de 30 anos, o que faz com que os pais e as mães das crianças de hoje se lembrem dos seus tempos de crianças...
 
Uma coisa boa, nesse início de festa: as autoridades acharam melhor não discursarem. Crianças são imprevisíveis; não se sabe como reagiriam a um discurso dos cerca dos oito, nove, ou dez honrados gestores públicos; como tem acontecido nos últimos discursos feitos pelas autoridades para platéias de crianças, estas tem deixado as tais autoridades extremamente constrangidas...

Está aberta a festa da criança macauense. Algumas centenas de crianças macauenses se espalham no largo da Rodoviária. A cada intervalo do cantor e sua banda, o locutor exulta anunciando a Festa da Criança Macauense.
 Aos poucos, filas de crianças macauenses vão se formando em frente aos brinquedos. As mães seguram suas crias, que não conseguem esconder a ansiedade pela sua vez de brincar: um pula-pula, miniaturas de motocicletas, que andam de verdade, um cubo com milhares de bolinhas plásticas coloridas que serve como piscina, uma espécie de castelo colorido de lona, inflável, com um touro de plástico, que espera ser montado assim que a criançada puder entrar.
As crianças, inexplicavelmente, quase não sorriem. Parecem muito ansiosas, como é de se esperar num momento deste. As filas vão aumentando em cada um dos brinquedos. As barracas das comidas, porém tem as filas maiores. Uma barraca afastada dos brinquedos é guardada por uma equipe de segurança: nela estão algumas centenas de brindes que serão distribuídos para as crianças macauenses.



O locutor oficial chama os organizadores oficiais do evento para anunciar algo. O organizador oficial do evento fala para a criançada. E chama todas para fazer uma fila na lateral do palco, para que possam receber uma espécie de ficha para que possam receber os brinquedos. Então, mais uma vez, na voz do locutor oficial, a empolgação se faz notar. Ele chama as crianças para receber a ficha.

Gerente de Eventos da PMM anuncia à meninada
que esperavam na fila que os presentes são apenas para
as crianças macauenses que estudam nas escolas do município

Primeira decepção: o organizador oficial da festa da criança macauense, sem pudor, avisa que as fichas para receber os brinquedos foram entregues aos diretores das escolas da rede municipal. As crianças da rede estadual, então, mesmo sendo macauenses, não vão receber nenhum brinquedo na festa da criança macauense. A fila que se formara, maior que a fila do cachorro-quente se desmancha rapidamente.
A fila dos brinquedos desaparece rapidamente; a fila do cachorro-quente agora é a maior. Pelo menos o cachorro-quente, o refrigerante, o picolé e a pipoca não serão apenas para as crianças macauenses que estudem nas escolas da rede municipal.
Segunda decepção: o cachorro-quente e o refrigerante não são suficientes nem mesmo para as crianças macauenses que estudam nas escolas da rede municipal. Uma mãe pergunta por que só as crianças das escolas do município têm direito, enquanto o locutor oficial anuncia uma vez, e uma vez mais a grande Festa da Criança Macauense... Algumas crianças chegam de repente e descobrem que o cachorro-quente acabou. Criança gosta muito de cachorro-quente com refrigerante...

Marquinhos Show canta: “Mais raparigueiro do que eu, só papai, só papai, só papai! Mais raparigueiro do que eu, só papai, só papai, só papai!”. Marquinhos é um dos artistas da terra. Os outros resolveram não aparecer.
A terceira decepção está por vir. Pela quantidade de caixas com pacotes, muitas das crianças macauenses que estudam nas escolas da rede municipal ficarão sem os seus esperados presentes. As crianças macauenses que estudam nas escolas da rede estadual ou particular, embora sejam macauenses iguais às suas colegas que estudam nas escolas do município, infelizmente não vão receber presente na Festa da Criança Macauense edição de 2011.

A Festa da Criança Macauense, com promessas de cachorro-quente com refrigerante, picolé, e pipoca para as crianças macauenses é, flagrantemente, mais uma decepção. O público não contempla a expectativa dos organizadores e do locutor que exulta cada vez que anuncia os patrocinadores da festa.

Pipoca para as crianças...



Picolé para as crianças...

Pula-pula para crianças: um presente sem futuro.


As crianças macauenses que estão na festa nos obriga a uma reflexão. Principalmente as crianças que estudam nas escolas da rede municipal. Porque elas são tão importantes em 12 de outubro? Nos nove meses iniciais de cada ano elas são desavergonhadamente abandonadas;  são lembradas num dia de outubro, e em seguida são, uma vez mais, descaradamente deixadas à margem das políticas oficiais do gestor municipal nos meses que fecham o ano?
Elas, as crianças macauenses das escolas do município, passaram o primeiro semestre de 2011 sem merenda nas suas escolas. Elas, ainda hoje, voltam para casa antes de terminar o horário de aula porque falta merenda nas escolas. Porque falta merendeira, professor, água nas escolas. Por que falta espaço nas creches municipais para as crianças macauenses? Por que faltam colchonetes nas creches para o descanso das crianças macauenses? Por que faltam brinquedos nas creches e escolas das crianças macauenses? Por que faltam bibliotecas nas creches e escolas para as crianças macauenses? Por que falta transporte para as crianças macauenses que moram nos distritos e estudam na sede do município?
Por que pipoca, cachorro-quente com refrigerante, e picolé, além de uns brinquedinhos relâmpagos para as crianças macauenses somente no dia 12 de outubro? Nos outros 364 dias do ano elas deixam de ser crianças?
Uma criança sai meio desconfiada da fila dos presentes. Mãos abanando, sorriso amarelo no rosto, olhar triste, enquanto sua mãe tenta em vão dizer que os presentes eram só para as crianças macauenses que estudam nas escolas municipais. Outra criança, menorzinha, chora. Sua mãe, visivelmente transtornada, soltando impropérios contra tudo e contra todos, diz que sua filha estuda numa escola municipal, mas não teve presente para ela...
Sem um presente, qual o futuro da criança macauense?

Fotos; ArquivoMacauEducação

3 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, professor Nazareno. Parabéns pelo blog. Fico triste com o relato sobre a situação das escolas municipais. Fico triste pelo repetido espetáculo de pão e circo que secularmente embota mentes e corações.

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  2. O que estas crianças deveriam ter além da festa de comemoração de seu dia era educação e saúde de qualidade, pois a cidade de Macau tem todas as condições de se destacar nessas áreas só falta vontade política e não me venham dizer que falta recursos. Se falta. Prestem contas, pois queremos saber para onde nosso dinheiro está indo.

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  3. Lí com tristeza desta falta de humanidade e socialismo do gestor maior deste município com seus irmãos cidadões. Este prefeito esqueceu os princípios básico do que nos fazem humanos: solidariedade, promovimento a vida e ter capacidade de convívio social.

    A sociedade deve cobrar conduta social deste. Tudo que ele faz na vida pessoal é contra os princípios da cidadania, percebido publicamente em primeiro grau pelo caos familiar promovido por ele, onde pratica adultério escancaradamente enlouquecendo sua esposa que chega fazer violência física e verbal nas praças públicas, não honra os compromissos trabalhistas nem com a própria cunhada Erinaide que necessitou acionar o ministério do trabalho para que receba seus
    Direitos trabalhistas porque na cabeça dele, os empregados são escravos, não são colaboradores. A sogra praticamente morreu às minguas pelo descaso do rico em verbas mas sem aplicação competente do pronto socorro municipal, sua filha quando necessitou de atendimento teve que traze de casa um lençol.

    Temos que alertar as nossas crianças que o perfil de um representante legal do município não é este, que só porque ele faz muitas obras não quer dizer que está trabalhando bem, isto é uma obrigação, não é favor, tem que possuir caráter social edificante, comprovado basicamente pela sua estrutura familiar, que é primordialmente o pilar da sociedade, em segundo pelo seu comprometimento com ações sociais que alavanque a humanidade. Ele não sabe o quão belo e grandioso de significados esta palavra representa.

    Fico triste e preocupado mas, o tempo faz a seleção das espécies, os maiores predadores que existiram na face da terra não escaparam da extinção, este também tem o seu tempo, sua inteligência predatória é sua derrota.

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